quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Entrevista concedida - Ser pai ou ser amigo?

Pais devem saber o limite da amizade com os filhos

Por Tany Souza - Site Arca Universal

Há pais que se gabam ao dizer que são amigos dos filhos, que são companheiros em tudo, que os filhos não escondem nada deles, porque antes de serem pais, são amigos. Parece ser algo positivo, mas até que ponto isso é benéfico para a relação entre pais e filhos?

Para a psicóloga Roseleide da Silva Santos, o fundamental é não perder o comando de pai e de mãe. "Eles têm uma autoridade que não pode ser perdida, para impor limite, direcionar, aconselhar."

Ela explica que os pais são aqueles que participam efetivamente da vida do filho. "É alguém próximo, que está disposto e tem uma relação estreita. O conceito que temos de pai amigo é aquele permissivo demais, que deixa fazer tudo. Mas é preciso lembrar que a formação de uma pessoa implica em respeitar os limites."

É claro que colocar um limite não é ser autoritário, mas sim construir um respeito mútuo. "Alguns pais lidam com os filhos com autoritarismo, porém, quando há respeito, há uma autoridade bem constituída", reforça Roseleide.

Os pais de hoje e os de ontem
Há algum tempo havia uma relação distante entre pais e filhos, mais de medo do que de respeito. "Antes era algo distante, sem qualquer afinidade, mas hoje em dia vivemos outro extremo, onde os pais acabam sendo muito mais amigos do que pais, dando mais liberdade do que deveriam e, com isso, perdendo toda a autoridade", esclarece a psicóloga.

Com essa amizade exacerbada, vivemos outra situação de superproteção. "Os pais acham que cuidar dos filhos é tê-los como posse, esquecem que eles são os facilitadores do filho com o mundo, alguém para dividir os problemas e não aqueles que colocam medo e pavor."

Essa superproteção é o resultado de um pensamento equivocado dos pais de que eles são suficientes para os filhos. "Pais que os criam como dependentes deles provavelmente são pessoas inseguras e também geram filhos dependentes. Dessa forma, a criança não será estimulada a estar no mundo ou a ser inserida nele."

Por isso Roseleide enfatiza a importância da participação dos pais no dia a dia dos filhos. "Atualmente, por causa do temor e a instabilidade do mundo, os pais acabam limitando mais os filhos pelo cuidado. Além de tudo tem a insegurança deles mesmo em educá-los."

Consequências da amizade paterna
É de extrema importância que os pais não deixem de considerar a autoridade. "Esse é o primeiro ponto importante, porque dentro da autoridade há a participação e a amizade entre eles. Sem o interesse pela pessoa, a relação fica mais distante, complexa, e o autoritarismo se faz necessário", comenta Roseleide.

Para os pais que gostam de tratar os filhos desde a fase infantil somente como amigos, atenção, isso pode trazer resultados na vida emocional deles. "Há pais e mães que dividem com os filhos seus problemas, por considerarem que seja importante tratá-los como amigos. Mas eles desconsideram que os pequenos não estão preparado para a demanda de dificuldades e que possuem outro tipo de condição e de estrutura emocional. Isso acaba fazendo com que a criança não se sinta capaz de resolver o problema contado pelos pais, o que pode trazer depressão infantil."

Outro resultado de tratar o filho mais como amigo é perder de vez a autoridade de pai. "Ele acaba não acatando uma decisão, desrespeitando, por vê-los mais como amigos e não como pai e mãe."

Fazer com que o filho se relacione somente com o pai como amigo é fazê-lo dependente. "Isso pode também trazer dificuldade de interação social, além de envolvimento com pessoas nocivas, e no futuro ter relacionamentos danosos", finaliza a psicóloga.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Entrevista concedida - Cobrar o outro é bom, mas fazer a sua parte é difícil

O que acontece com aquele que exige uma postura do outro, mas não cumpre o seu próprio papel?

Por Tany Souza - Site Arca Universal

Ligações telefônicas não recebidas. Visitas prometidas e não cumpridas. Companheirismo e amizade que ficam cada dia mais frios pela falta de cultivo e da convivência, que ainda são agravados por quem pede maior contato, mas não faz nada para que isso aconteça de fato.
 
Parece algo antagônico, mas o que mais vemos hoje são pessoas com dificuldade de trocar, porque não conseguem se relacionar bem com o outro. "Para que esse relacionamento aconteça é preciso comunicação, diálogo e contato. A comunicação se resume em conseguir transmitir uma mensagem, o que possibilita um diálogo que é a convivência e a troca entre as partes. Porém o mais complicado é o contato, pois quando isso acontece há abertura para que a vida privada seja dividida", explica a psicóloga Roseleide da Silva Santos.
 
Entretanto, ela ressalta que não são todas as pessoas que desejam ter esse contato ao ponto de não somente participar da vida do outro, mas de se abrir para que o outro participe da sua vida também. "O contato depende da qualidade da relação que se tem. Por isso, o mais delicado é a forma de contato, porque ou se abrem ou se fecham para essa convivência, já que as pessoas têm dificuldade de dar o limite para a abertura. Para alguns é exposição demais."
 
Há ainda pessoas que cobram o outro por essa falta de aproximação e convivência, mas elas mesmas estão fechadas para que isso aconteça e sempre colocam empecilho para os encontros. "Isso acontece porque é difícil admitir um erro. É mais fácil delegar aquilo que eu não faço, do que reconhecer que em mim está a dificuldade de entrar em contato com alguém. Além disso, pode ter medo da exposição da vida ao outro e nisso abrir possibilidade de críticas, julgamentos, inseguranças", enfatiza Roseleide.
 
Não somos uma ilha 
A psicóloga explica que "estar em contato com o outro é uma forma de construção pessoal, ninguém consegue se construir sozinho, por isso é importante estar com outras pessoas. Porém, essa construção implica em trabalho, em esforço de estar com alguém, em cultivar uma amizade diariamente".
 
Para Roseleide, o problema nessa falta de interesse de estar com as pessoas é porque as mídias sociais impuseram a possibilidade da amizade virtual. "As pessoas querem imprimir a mesma velocidade da internet na relação pessoal, sem terem que visitar o outro. São relações supérfluas, pois hoje não se tem mais essa tolerância para ter uma relação mais aprofundada. O que importa é a quantidade de amigos que eu tenho e não a qualidade dessa amizade", exemplifica.
 
Convivendo com quem não quer conviver 
A psicóloga diz que a primeira coisa a fazer é analisar o relacionamento em si. "Primeiro temos que pensar que nossas atitudes condizem com as nossas necessidades. Se a necessidade é estar próxima daquela pessoa, deve ter a consciência de que não será da sua forma, mas da forma que o outro quer que seja e isso pode significar certa frieza."
 
Lidar com pessoas fechadas para o convívio, para uma relação mais íntima, não é confortável. "Deve aceitar a realidade que não terá contrapartida da pessoa, mas também não pode submeter-se a um relacionamento que está em total desacordo."
 
Ela finaliza ressaltando que um relacionamento, seja de amizade, entre familiares e até mesmo a dois, precisa ser valorizado por ambas as partes. "Quando se fala de amizade, se fala de cultivo, de constância. Um bom relacionamento não é passageiro, é para sempre."