segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Da fidelidade - Vinicius de Moraes

Da fidelidade

Vinicius de Moraes



Há alguma coisa maior que nós mesmos que é a fidelidade a nós mesmos
Flor espantosa que vive das águas cáusticas e das terras apodrecidas da prodigiosa extensão humana.
É a sua santidade que eu quero fazer nascer destas palavras de ritmo obscuro
E neste momento mesmo é talvez a sua inocência que eu violento com os meus dedos mártires que a desejariam sangrando.
Ela nasce desse instante supremo em que o homem que viu a verdade sente que a sua simplicidade trágica nada poderá contra ele
Ele que é como o país que vê a guerra no pássaro de arribação que se pousou da grande viagem sobre o seu pavilhão estendido.
Não existe talvez nada mais belo que a miséria que habita essa alma que nós mostramos como um pavilhão estendido ao pássaro peregrino
E talvez nada mais horrível que essa guerra que se vê nascer subitamente das entranhas da nossa miséria
A fidelidade é como o amor da miséria pelo eterno viajante sereno
É como um homem que à força de contemplar um rio é por sua vez comtemplado por ele.
Se é que há um lugar de Deus em cada criatura nada será fidelidade senão a fidelidade à falta de Deus neste lugar
Aos sentimentos e nunca à verdade porque a verdade é o símbolo do absoluto e o absoluto é a morte do homem.
Ai de mim! talvez eu devesse morrer porque eu digo as palavras da fé com gestos de inteligência.
Fidelidade, lírio, anjo, mar de pureza.

Compartilho outra poesia que muito aprecio.
Ótima semana.

Um grande abraço,
Rose

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