segunda-feira, 4 de maio de 2020

Como The Sims se torna um alívio em meio à quarentena

Fazer festas, visitar os vizinhos e reunir a galera no churrasco: aqui você pode


Carol Costa


Talvez você tenha percebido que, de algumas semanas para cá, The Sims parece mais presente nas timelines das redes sociais. Aliado aos recentes descontos do game na Origin, a quarentena proporciona um momento muito atrativo para o retorno à vizinhança dos Sims.

Não é difícil imaginar os motivos. Sendo um  simulador de  vida, o jogo oferece um alívio àqueles que estão se adaptando aos poucos à nova rotina de quarentena, além de ser um excelente recurso para aliviar o stress, conforme reportado por este estudo.
Desde os primórdios na companhia das famílias Novato e Caixão, The Sims oferece possibilidades de viver uma vida fiel à realidade, ou totalmente fora da caixa -- o que é mais legal, convenhamos.
A vida como ela (não) é
Enquanto algumas pessoas estão aproveitando os desafios da vida real para reproduzí-los no game, como o “Quarantine Challenge” (que, conforme relatado em alguns fóruns do jogo, pode seguir regras como: não sair de casa, só pegar a pizza após o entregador deixar na porta e etc.) outras estão jogando para poder vivenciar no jogo o que as limitações atuais impedem, como este jogador que recriou a si e os amigos para celebrarem sua festa de aniversário.
“Estou reunindo mais os amigos e familiares nas casas. Fazendo mais eventos sociais e colocando eles para interagirem”, conta a social media Malu dos Reis, que joga desde 2005, em entrevista ao IGN Brasil. Entre seus hobbies preferidos no jogo estão construir árvores genealógicas e alcançar as metas dos Sims. “Sem cheat”, ressalta.
The Sims virou um ponto de fuga e distração para Malu, que relata conseguir desconectar das preocupações ao se concentrar no jogo e a respeitar seus horários de lazer. “Sinto que com as mudanças e adaptações de trabalho em casa, não tenho mais dia na semana. Todos os dias são iguais -- com trabalho e preocupações. Meu cérebro fica conectado 24 horas por dia para resolver problemas. Quando eu respeito meu tempo e tiro umas horas no dia pra jogar me desconecto completamente.”
A publicitária Aline Rotta, que joga The Sims desde 2010, conta que a quarentena promoveu mais tempo livre para o jogo. Apesar de suas ações preferidas em The Sims envolverem a criação e decoração de casas e ambientes, poder interagir com os vizinhos dentro do game tem soado uma possibilidade mais atrativa no momento. “De alguma forma, levar os Sims a outros lugares me faz sentir saudade dessa interação na vida real”. Aline conta que outras amigas estão jogando mais neste período de quarentena e conversando entre si sobre o jogo.
O caso é semelhante ao de Bruno Cintra, técnico de obras, que joga The Sims há 17 anos. Apesar de não sentir diferença no modo que tem jogado atualmente, Bruno conta que voltou a jogar recentemente durante o período em que está em casa. ”Fazia anos que eu não jogava. Esses dias me bateu saudade daqueles momentos, aí instalei e voltei a jogar. Acho que pelo saudosismo acabei fazendo as coisas que já fazia antes no jogo.” Para honrar o hobby antigo, Bruno diz que não pretende ficar mais tanto tempo sem jogar de novo, mesmo que a volta à rotina diminua o tempo livre.
Malu, por outro lado, acredita que a experiência de jogar durante a quarentena pode mudar completamente sua visão sobre The Sims. “Acho que, no futuro, não vai ser como está sendo, acho que vou aproveitar de uma forma diferente. Talvez menos, talvez mais. Mas definitivamente diferente”, conclui.

A psicologia explica

Games de simulação de vida, como The Sims ou mesmo Animal Crossing, podem ajudar a atenuar os efeitos nocivos do isolamento social pelo qual estamos passando.
“O contexto atual da quarentena, em que somos obrigados a evitar o contato social, nos afeta de forma diferenciada e solicita que nos reorganizemos em todos os aspectos do cotidiano”, explica Roseleide da Silva Santos, psicóloga da Clínica de Psicologia Viver com Qualidade. “Essa instabilidade social nos chega como uma agressão e faz com que nos sintamos vulneráveis. Diante desse ambiente hostil vamos pesquisar em nosso meio aquilo que nos propicia um equilíbrio ou fonte de prazer, e é aí que a procura por jogos virtuais pode aumentar. O importante é saber qual é a finalidade dessa prática.”
De acordo com a psicóloga, as atividades lúdicas favorecem o conhecimento e a compreensão do que sentimos por oferecerem um momento de descontração, no qual nos sentimos à vontade, e por incentivar a criatividade, já que quanto maior a nossa capacidade de criação, maiores serão os recursos que encontraremos para enfrentar momentos de adversidade.
Claro que, como todo e qualquer hábito, tudo deve ser aproveitado com parcimônia, sem exageros. A fuga total da realidade, se demasiadamente frequente, pode atrapalhar nossa capacidade de autocompreensão e ignorar sentimentos importantes, passando da jogatina saudável para uma prática que merece atenção.
“Por ser um simulador da vida real, o jogo apresenta a chance de você definir o destino da própria vida e de outros. Deslumbrados por uma fascinante sensação de poder (ilusória) os jogadores podem se confundir com essa realidade virtual e tentar reproduzir o mesmo na vida real”, explica Roseleide. “Nessa circunstância há ingênua e, principalmente, insegura sensação de ‘controle da vida’ porque se crê que possuímos o comando sobre tudo e todos e a vida pode ser exatamente como queremos”, conclui a psicóloga.
Sendo assim, aproveite com sabedoria os recursos lúdicos a sua disposição para lidar da melhor forma com o período que estamos vivendo -- seja construindo mansões incríveis ou dando festas com os vizinhos em The Sims (e, por enquanto, só no The Sims, ok?).



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